Blog da Dra. Fernanda Rocha

Entenda a relação entre privação do Sono e Saúde Mental

Sono e Saúde Mental

O sono é um dos pilares fundamentais da saúde humana, mas nem sempre é tratado com a devida importância. A privação do sono pode afetar negativamente a saúde mental, impactando o estado psicológico e emocional das pessoas. Neste sentido, a compreensão da relação entre uma boa noite e saúde mental é essencial para uma vida equilibrada e saudável. Portanto, neste artigo, vamos explorar a conexão entre sono e saúde mental, como a privação do descanso pode afetar o bem-estar mental e quais as melhores formas de tratamento.

Sono e saúde mental: a conexão 

De acordo com um artigo da Harvard Health Publishing, nos Estados Unidos, a maioria da população sofre com privação de sono, porém aqueles que têm problemas psiquiátricos têm ainda mais dificuldade em se manterem acordados durante o dia. O artigo aponta que cerca de 50% a 80% dos pacientes em uma prática psiquiátrica típica apresentam problemas crônicos do sono, em comparação com apenas 10% a 18% da população geral. Esse número é ainda mais elevado em pacientes com transtornos como ansiedade, depressão, transtorno bipolar e TDAH.

Enquanto os médicos costumavam considerar a insônia e outros distúrbios relacionados como sintomas de problemas psiquiátricos, estudos recentes mostram que eles podem aumentar o risco e até mesmo contribuir para o desenvolvimento desses distúrbios. Isso significa que tratar problemas de sono pode ajudar a aliviar os sintomas de problemas de saúde mental concomitantes.

Embora a conexão entre uma boa noite e saúde mental ainda não seja completamente compreendida, estudos sugerem que um boa noite pode ajudar a promover resiliência mental e emocional. Por outro lado, a privação crônica do sono pode facilitar o pensamento negativo e a vulnerabilidade emocional. Por isso, é fundamental que você priorize um boa noite para manter sua saúde mental em dia.

A Importância do Sono para a Saúde Mental e Emocional

O sono tem uma relação profunda com a saúde mental e pode afetá-la de diversas maneiras, tanto positiva quanto negativamente.  Durante a noite, o corpo passa por duas categorias principais de sono, não-REM e REM

No período do sono não-REM, o corpo relaxa e a frequência cardíaca, respiração e temperatura corporal diminuem, enquanto o estágio mais profundo ajuda a impulsionar o funcionamento do sistema imunológico. Já o sono REM é o período em que as pessoas sonham e é caracterizado por um aumento da atividade fisiológica. Além disso, estudos mostram que o sono REM ajuda no aprendizado, na memória e na saúde emocional, de maneiras complexas. 

Entretanto, interrupções no descanso afetam os níveis de neurotransmissores e hormônios do estresse, prejudicando funções cerebrais, incluindo o pensamento e a regulação emocional. Isso pode amplificar os efeitos dos transtornos psiquiátricos e vice-versa. Portanto, é fundamental manter um sono de qualidade e adequado para uma boa saúde física e mental.

A relação entre distúrbios do sono e problemas psiquiátricos

Já sabemos que o sono é fundamental para a saúde mental. No entanto, existem mais de 70 tipos de distúrbios relacionados, sendo que a insônia, apneia obstrutiva do sono, distúrbio do movimento periódico dos membros e a síndrome das pernas inquietas e narcolepsia são os mais comuns. 

A prevalência e o impacto dos distúrbios do sono variam de acordo com o diagnóstico psiquiátrico, mas é comum a sobreposição entre esses distúrbios e problemas psiquiátricos, sugerindo que ambos podem ter raízes biológicas comuns. 

A privação do sono afeta a regulação emocional e prejudica as funções cerebrais, como o pensamento, por exemplo, amplificando os efeitos dos transtornos psiquiátricos.

Abaixo, veremos como a falta de sono pode afetar especificamente transtornos como depressão, transtorno bipolar, ansiedade e TDH.

Depressão 

Problemas de sono são comuns em pacientes com Transtorno Depressivo Maior, com estimativas variando de 65% a 90% em adultos e 90% em crianças. Insônia é o problema mais relatado, enquanto um em cada cinco pacientes sofre de apneia obstrutiva do sono.

Além disso, estudos indicam que todos os distúrbios do sono aumentam o risco de desenvolver depressão. De acordo com uma pesquisa longitudinal realizada em Michigan com 1.000 adultos jovens matriculados em um programa de manutenção da saúde, aqueles com histórico de insônia em 1989 tiveram quatro vezes mais chances de desenvolver depressão maior três anos depois do que aqueles que dormiam normalmente. Outros dois estudos longitudinais em jovens descobriram que problemas para dormir se desenvolveram antes do surgimento da depressão maior.

Além disso, pacientes com depressão que sofrem de insônia têm menos chance de responder ao tratamento do que aqueles sem problemas para dormir, mesmo que seus sintomas de humor melhorem com a terapia antidepressiva. Por fim, pacientes com depressão que têm insônia ou outros distúrbios do sono são mais propensos a ter pensamentos suicidas e morrer por suicídio do que pacientes com a mesma condição que dormem normalmente.

Transtorno Bipolar 

De acordo com um artigo publicado “Sleep and mental health” publicado na revista Nature em 2019, estudos em diferentes populações relatam que entre 69% e 99% dos pacientes com transtorno bipolar apresentam insônia ou relatam menos necessidade de dormir durante um episódio maníaco.

Já na depressão bipolar, estudos indicam que 23% a 78% dos pacientes dormem excessivamente (hipersonia), enquanto outros podem apresentar insônia ou agitação. 

Resultados de estudos longitudinais sugerem que a insônia e outros problemas de sono pioram antes de um episódio de mania ou depressão bipolar, e a falta de sono pode desencadear a mania. Além disso, tais problemas também afetam negativamente o humor, contribuindo para uma recaída.

Transtorno de ansiedade 

O sono é fundamental para a saúde mental, mas é comum que pessoas com Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), Transtorno do Pânico, Transtorno Obsessivo-Compulsivo e fobias sofram com problemas relacionados. 

Mais de 50% dos pacientes adultos com Transtorno de Ansiedade Generalizada são afetados por problemas para dormir, assim como crianças e adolescentes. Um estudo revelou que adolescentes com Transtorno de Ansiedade têm dificuldade para dormir e dormem menos profundamente.

A insônia também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de um transtorno de ansiedade, embora menos que para a depressão maior. No entanto, em um estudo com adolescentes, os problemas de sono precederam os transtornos de ansiedade em 27% das vezes e a depressão em 69%.

Além disso, a insônia pode agravar os sintomas dos transtornos de ansiedade ou impedir a recuperação. No caso do TEPT, a interrupção do sono pode reter memórias emocionais negativas e atrapalhar a eficácia das terapias para reduzir o medo. 

Em resumo, cuidar do sono é essencial para a saúde mental e pode ser especialmente importante para aqueles que sofrem de transtornos de ansiedade.

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade  (TDH) 

O sono é crucial para a saúde e bem-estar das crianças, porém problemas para dormir são comuns em crianças com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Cerca de 25% a 50% das crianças com TDAH enfrentam dificuldades para dormir, como dificuldade em adormecer, sono agitado e menor duração do sono. Esses problemas podem ser tão semelhantes aos sintomas de TDAH que pode ser difícil distingui-los.

Até 25% das crianças com TDAH sofrem de distúrbios respiratórios do sono, enquanto o distúrbio do movimento periódico dos membros e a síndrome das pernas inquietas, que também prejudicam o descanso, afetam até 36% das crianças com TDAH. 

Crianças com esses distúrbios do sono podem apresentar hiperatividade, falta de atenção e instabilidade emocional, mesmo que não atendam aos critérios diagnósticos para TDAH. 

Sono e saúde mental: Tratamento

Para tratar a falta de sono, o tratamento recomendado é, em grande parte, o mesmo para todos os pacientes, independentemente de possuírem transtornos psiquiátricos. As mudanças no estilo de vida, estratégias comportamentais, psicoterapia e medicamentos, se necessário, são a base do tratamento.

Mudanças no estilo de vida são uma das primeiras coisas que devem ser feitas.  Entre elas:

  • Evitar substâncias como álcool, nicotina e cafeína antes de dormir é importante.
  • Atividade física regular pode ajudar a melhorar o sono.
  • Boa higiene do sono é fundamental, incluindo manter um horário regular de dormir e acordar, usar o quarto apenas para dormir ou fazer sexo e manter o quarto escuro, fresco e livre de distrações.
  • Técnicas de relaxamento, como meditação, imaginação guiada, exercícios de respiração profunda e relaxamento muscular progressivo, também podem ser úteis.
  • A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem eficaz para tratar a insônia e a saúde mental, ajudando as pessoas a mudar as expectativas negativas e a construir mais confiança no sono.

Em conclusão, distúrbios do sono podem causar uma série de problemas físicos e mentais, incluindo obesidade, diabetes, doenças cardíacas, depressão e ansiedade. No entanto, há muitas estratégias eficazes para melhorar a qualidade do descanso, como mudanças no estilo de vida, terapia comportamental e, se necessário, medicamentos. É importante lembrar que cada pessoa é única e pode precisar de abordagens diferentes para tratar seus problemas ao dormir.

 Portanto, é sempre recomendável consultar um médico ou um especialista para se obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento personalizado. Priorizar o sono e a saúde mental deve ser uma prioridade para todos, e pode levar a uma vida mais saudável e feliz.

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